Outros nomes: Krinkati
Quantos são: 800 (em 2003)
Língua: Timbira (Jê)
Área indígena: A.I. Krikati, 146.000 Ha.
Localização
Os Krikati se localizam no sul do Maranhão, nos municípios de Montes Altos, Sítio Novo, Amarante e Lajeado Novo, dentro da área indígena Krikati, de 146.000 há. Habitam um ecossistema conhecido como cerrado caracterizado por árvores baixas, retorcidas espaçadas, embora o seu território, especificamente, pode ser definido de transição, do cerrado para a floresta amazônica.A Língua
A língua é praticamente igual à dos demais povos Timbira (Jê), com algumas variantes dialetais. Os únicos que apresentam diferenças significativas em termos lingüísticos entre os Timbira, são os Apinayé (TO). Os Krikati se comunicam com os demais povos do mesmo tronco lingüístico-cultural, (o povo Canela e Gavião) sem nenhuma dificuldade de ser entendido.Breve História do contato
As primeiras notícias históricas que fazem referência específica aos Krikati, é para informar que em 1814 este povo foi atacado por uma Bandeira, a de São Pedro de Alcântara, onde se verificaram muitas mortes e houve uma dispersão muito grande. Isto coincide com a conquista das terras Timbira, pelos brancos, que se efetivou em sua maior extensão no primeiro quartel do século XIX, dentro de um grande vácuo jurídico, ou seja, entre a extinção do Diretório dos Índios pombalino na última década do século precedente, e a primeira disposição legal referente a índios do Brasil independente, que somente ocorreu no Ato Adicional que emendou a Constituição do Império em 1834. De lá para cá, após os grandes ataques armados deflagrados naquela primeira parte do século, os Krikati, bem como os demais Timbira, conheceram um longo período de dispersão e de definhamento de toda ordem.Os remanescentes Krikati e das diferentes etnias que sobravam após massacres, epidemias, expulsão da terra, iam engrossar a população daquelas que não estavam, temporariamente, enfrentando tais problemas, dando-lhes um reforço na manutenção da cultura timbira. Os Krikati, nessa dispersão física, acabam entrando em contato com as fazendas que fazem criação extensiva de gado, que dispensam a contribuição de muitos trabalhadores, ficam à margem da atividade pecuária, mas têm sido entre os mais hostilizados por ocuparem terras necessárias à expansão desses estabelecimentos e por transformarem em alvo o gado que ocupou suas áreas de caça. Os Krinkati, dessa forma, viram-se de tal modo reduzidos em sua terras, que chegaram a se dispersar no início do século XX, e durante alguns anos não tiveram aldeias; entretanto, conseguiram novamente erigi-las.
Por outro lado, os Krikati, talvez por causa disso, estão entre aqueles que mais guardaram o modo de vida tradicional. Um marco importante dessa dispersão Krikati, ocorreu em 1929. Os fazendeiros da região exerceram uma pressão tão grande que, os indígenas, após terem sido comunicados de sua transferência, incendiaram sua aldeia e se dispersaram para fugir do massacre iminente. Numerosas informações de etnógrafos e antropólogos dão conta do drama, da violência e dos assassinatos exercidos, inclusive, pelos antepassados dos que hoje, ocupam ainda, parte do território dos Krikati.
Breve história da ocupação do território
Numerosos dados etnográficos e antropológicos, amplamente documentados, confirmam que os Krikati desde tempos imemoriais vêm ocupando o atual território. Mesmo fazendo a experiência da dispersão e da perseguição praticada pelos criadores de gado da região, nunca abandonaram suas terras tradicionais, e em momento algum chegaram a vender ou a negociar parte dele, como se chegou a insinuar. O território Krikati, palco de conflitos violentos e de vastas ocupações ao longo da história, foi reconhecido formalmente como pertencente aos índios Krikati, em 1991, ocasião em que o juiz federal Cândido Artur Medeiros, considerou nulos todos os títulos apresentados pelos ocupantes do território Krikati, por não apresentarem cadeia dominial de suas supostas propriedades. Com base nisso e, naturalmente, a partir de estudos etno-históricos, em 1992, o então ministro da Justiça, Célio Borja, mandou demarcar uma área de 146.000 há. Para o povo Krikati através da portaria n. 328. Um levantamento feito na época, por uma comissão especial, constatava que havia cerca de 600 posses no interior da área Krikati, cerca de 1.200 famílias e um total de 7.000 pessoas. Em 1993, o exército iniciou a demarcação física do território sendo, porém, impedido de executá-la, devido à reação dos ocupantes, políticos locais e o apoio, inclusive, do administrador regional da Funai em Imperatriz, Paulo Stênio. Em 1994 tentou-se uma segunda tentativa de demarcação, através da empresa SETEP, que fracassou mais uma vez, pela violenta resistência dos ocupantes que chegaram a queimar pontes, seqüestrar funcionários e agentes da própria polícia federal, ocupar bancos, interditar estradas. Em decorrência de todas essas demonstrações de força bruta, de intolerância, de desacato às determinações federais, em 1995 foi brutalmente assassinado, o índio Manoel Mendes.Só a partir do dia 08 de fevereiro de 1997, os Krikati, começam a dar um novo rumo para garantir o seu território tradicional. Nesse dia, os indígenas incendiaram e derrubaram duas torres de alta tensão que passam dentro do seu território, como forma de pressionar os governos federal e estadual a solucionar definitivamente o impasse fundiário. Novos acordos e promessas são selados entre os Krikati e representantes do governo estadual e federal. Com a ajuda da polícia federal, os próprios Krikati iniciaram o processo de demarcação física do seu território, concluindo-o em pouco meses e não sem pressões e ameaças.
Atualmente, várias famílias foram retiradas do territórios krikati, mas outras fazendas históricas permanecem dentro. Fala-se numa retomada do processo de indenização das famílias que estão ainda situadas na terra Krikati, mas a alegação de falta de recursos torna o processo lento. Até hoje, a era indígena Krikati não foi homologada pelo presidente da República. Apesar disso, o clima na área é bem mais tranqüilo que 6 anos atrás, há perspectivas de que se chegue a uma solução negociada e pacífica e, principalmente, não se tem notícias de novas ocupações.
Algumas características da cultura Timbira dos Krikati
Os Krikati por fazerem parte da cultura Timbira, assumem e incorporam muitos elementos que são comuns aos demais povos Timbira, evidentemente, com algumas diferenças. Isto, devido ao diferente grau de contato que escolheram de manter com a sociedade não indígena. A relativa proximidade de cidades e sua interferência na sociedade Krikati, e a presença indígena maciça nelas, seja por negócios, seja por motivos de estudo, vem modificando significativamente muitas das manifestações culturais que até poucos anos atrás eram realizadas. Longe de parecer um abandono ou uma perda de sua identidade cultural, revela como a cultura Krikati é algo dinâmico, que se refaz permanentemente e que não pode ser identificada somente com determinadas manifestações culturais exteriores.Nas aldeias Krikati (duas, atualmente), as casas estão dispostas em forma circular, parecendo uma grande roda, ou um grande sol, convergindo para um grande pátio central. Este, diferentemente do que ocorre com aldeias de outros povos Jê, de outros estados, não tem casa-dos-homens ou qualquer outra construção. O pátio é o local das reuniões masculinas que, até pouco tempo atrás ocorriam ao amanhecer e ao anoitecer.
O casamento, monogâmico, implica, em geral, na transferência do marido para casa onde vive a mulher. A união se torna estável depois do nascimento do primeiro filho. Mas há ampla liberdade sexual para solteiros e casados. Casas contíguas oriundas do desdobramento de uma casa anterior são, por força da regra de residência pós-marital, relacionadas entre si por linha feminina e formam uma unidade social. As pessoas nascidas num mesmo segmento de casas desse tipo não casam entre si. Tais segmentos são, pois, exogâmicos.
Os Krikati praticam vários ritos. Um deles se expressa mediante a realização das corridas de revezamento, em que cada uma das duas equipes que as disputam, carrega uma seção de tronco de buriti (ou de outro vegetal). O formato das toras (longas ou curtas, maciças ou ocas, cavadas ou com cabos), seu tamanho e seus ornamentos variam conforme o rito em realização. Para essas disputas, mas não somente para elas, os Krikati, como a maioria dos povos Timbira, se divide em duas partes, ditas metades. O mesmo povo pode dividir-se em distintos pares de metades, cada qual com seu critério de afiliação: nome pessoal, faixa de idade, livre escolha, mas, ao que parece, em nenhum caso descendência unilinear.
“Os termos de parentesco classificam filhos dos tios de sexos opostos aos dos pais com parentes de outras gerações. A aplicação dos termos aos parentes distantes pode afastar-se do padrão quando envolve portadores do mesmo nome pessoal, parentes para com os quais se mudou de atitude, amigos formais. Quanto a esses últimos, vale esclarecer podem ser de dois tipos: aqueles unidos por uma amizade mais espontânea, que os faz iguais, como se fossem irmãos; e os ligados por um laço mais rígido, marcado simultaneamente por uma solidariedade exagerada e pela evitação, que os faz como contrários.
Seus grupos locais se relacionam pela chefia honorária, constituída pela aclamação de um morador de uma aldeia pelos de outra, da mesma ou de outra etnia, estabelecendo uma relação de paz e amizade, e proporcionando hospedagem de uns na aldeia dos outros.
Seus mitos, são na grande maioria os mesmos que se encontram entre os Timbira, com pequenas variações: Sol e Lua e a criação dos seres humanos, do trabalho, da morte, da menstruação, dos animais importunos e peçonhentos; a Mulher-Estrela, que ensina o uso dos vegetais cultiváveis; a luta contra o grande gavião e a grande coruja e a origem do rito de iniciação Pembyê; a assunção de um homem aos céus pelos urubus, de onde traz o conhecimento do xamanismo e do rito de iniciação Pembkahëk; o conhecimento do uso do fogo, que foi tomado das onças; a transformação de alguns seres humanos em monstros, como o Perna-de-Lança; o surgimento do homem branco pela exclusão de um membro anômalo do seio da sociedade indígena. É constante, pois, nessa mitologia a passagem de conhecimentos de fora para dentro da sociedade e de certos seres no sentido contrário.”
Os Krikati, na atualidade
Hoje existem dentro da terra indígenas, duas aldeias Krikati, mas até 5 anos atrás, só havia uma. Como desdobramento dos conflitos ocorridos em ocasião da demarcação, foi criada por uma das lideranças da época, João Piauí, a aldeia Raiz, pouco distante da principal, a aldeia São José. Nesta, hoje, funciona uma escola indígena em que 22 professores, em sua grande maioria Krikati, que lecionam diariamente para mais de 200 alunos de 1ª a 8ª série. Há, também, um posto da Funai, cujo chefe é um índio, formado em agronomia. Apesar das notórias alegações de falta de recursos por parte do órgão indigenista, a presença de um Krikati como responsável da administração federal, contribuiu na mobilização, na organização e na conscientização daquele povo. Além disso, os Krikati, em 2003, puderam festejar e se alegrar com a formatura de Nonõi Krikati que se formou em direito. É o primeiro índio do Maranhão a ter curso superior e se formar em direito. Os Krikati, 3 anos atrás, firmaram um convênio com a FUNASA ( Fundação Nacional Saúde) para eles mesmos tomarem de conta dos serviços sanitários básicos da aldeia, evitando que outras instituições não indígenas assumissem e desempenhassem funções que requerem não só preparação técnica, mas principalmente conhecimentos culturais específicos. Isto redundou numa significativa melhoria no atendimento à saúde dos índios. Tudo isso é fruto da opção que o povo Krikati está fazendo: investir na formação e na educação de seus jovens sem se distanciar de suas raízes. Os resultados parecem comprovar que estão no caminho certo.Desde um ponto de vista econômico as atividades se diversificaram enormemente nestes últimos anos. Embora as atividades agrícolas continuem tendo uma certa predominância, a produção de artesanato ( colares, pulseiras, cestarias e outros artefatos), juntamente com a criação de gado, - que já conheceu tempos melhores – contribuem significativamente com o longo caminho rumo à plena autonomia. Dentro da economia local, interna, não se pode desprezar também, o número significativo de “assalariados”, professores indígenas e funcionários e agentes de saúde.
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